sexta-feira, 28 de novembro de 2008

I'm not happy when it rains.


Chove forte. Há meses que D. Pedro chora por motivo desconhecido, castigando Santa Catarina, será que a mesma fez algo de mau? Não temos resposta para o plano superior.

Debaixo de um casebre simples a família celebra o primeiro “papai” dito pela menina de 11 meses. Seus pais riem do feito da pequena. A morada fica num morro protegido pela mata nativa, árvores verdejantes que estão cansadas de serem molhadas.

As lágrimas do santo continuam por horas seguidas, o céu está negro parece noite, não se sabe exatamente se já o é ou se ainda é dia, olham para o relógio, é hora de dormir. Deixam o nenê em seu berço quente, vão para a cama de casal.

Ela chora assustada pelo barulho de trovões.... os pais a levam para a segurança de seus braços. Conseguem-na acalma-la por certo tempo, não esperam o acontecimento que acontecerá em poucos... Boom! Ouvem ao fundo, o pai e marido protege sua família, num instinto rápido, animal! Segundos depois acontece o pior as árvores-muro caem. Lama invade toda a parte, leva pertences. A cama jaz em pedaços, ele solta a mão da mãe do rebento para proteger a indefesa criança... instantes depois é o fruto do amor que se vai. Ele é resgatado, preferia que resgatassem as duas e o deixassem, já não há tempo. O pai outrora orgulhoso perde tudo num espaço de segundos, no máximo um minuto.

Levam-no a uma igreja-abrigo. Está desolado, a tristeza, a desesperança, o medo e poucos momentos lúcidos se alternam. Não consegue chorar, não acredita, tenta, mas é impossível. Não dorme, lembra dos 11 meses mais felizes de sua vida e do momento em que o Sol brilhou forte e rapidamente... “Papai!”, “Papai”, “Papai”, ... a palavra, a lembrança, o momento, o sorriso, a voz... não sai de sua cabeça. Papai...

ps. Inspirado na reportagem ‘“Em menos de 1 minuto, eu perdi as duas’, diz o pai” – O Estado de S. Paulo, Terça-feira, 25 de novembro de 2008, p. C6 (Cidades/Metrópole).


quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Anseios, vontade, desejos, repulsa II

Abraço carinhosamente, meu homem, que está ao lado. Ele parece cansado, não dá atenção, vira o rosto, distante de mim... dá minha doce boca, será que me acha feia? Não entendo foi tão bom, cheio de carinho, o que fiz de errado? Faço perguntas se há algo errado, me responde curto e seco, com sims e nãos. Parece não se importar. Quero conversar!

Ta um calor dos infernos, estou descabelada e suada, será esse o problema? Ele acende seu cigarro intragável, por que eles sempre têm que fumar depois? Acho que é seu único problema... um péssimo hábito, eu falo, mas não me ouve, é teimoso. Ele está tão distante! Pouco tempo atrás estávamos como apenas um, agora ele viaja pelo seu mundo paralelo e alheio; não paro de pensar no belo homem que és!

Sim, sei que sou um tanto insegura, mas oras, como não ser? Meus cabelos são feios, sou gorda, já fiz dieta da lua, da sopa, a base de água, comprei a revista “Em Forma” e não deu resultado! O problema é comigo mesmo. É isso, por isso ele está distante, continuo fazendo carinho, sem resultados, porém.

De repente, uma reação inesperada! O filho-da-puta me chama de gorda, certeza que ele está com outra, que absurdo! Eu não sou gorda! Não sou! O expulso da minha cama, do meu quarto, da minha casa, da minha vida... AAAAAAAAAAAH! Eu tô gorda! Ele disse, pior ele teve a indolência de dar um lindo, quero dizer um horroroso sorriso, e disse que me ligaria... ai... vou tira-lo da minha vida! Eu te odeio!

Passo o resto da madrugada acordada, acordo minha amiga e me afundo em lágrimas raivosas, xingo o idiota e como um pote de sorvete! ... ele vai ver só! Um dia vai rastejar por mim, desgraçado!

ps. Esse texto é machista! É sexista! E é paródico! Especial para Érika! Que venham as pedras que meu telhado não é de vidro

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

anseios, vontades, desejos, repulsa

Viro pro lado e tento adormecer, porém a moçola insiste em querer conversar e perguntar e invadir meu espaço. Desejo apenas minha paz interior, recuperar meu fôlego, depois de muitas curvas, níveis e desníveis, altos e baixos relevos. Mas, diabo, insiste em não calar. Acendo meu cigarro restaurador e me imagino em outros braços, num lugar qualquer bem distante donde estou; longe desse calor que cola e molha, como molha. Mèrde! Ao que parece ela discorda, entretanto não usa palavras, apenas gruda os corpos nuns aos outros, molhada já está.

Desejo algo, ela também o faz, mas não há concordância nas vontades: eu quero fugir, ela quer ficar; eu quero o êxtase e o descanso, ela quer o êxtase e atenção; eu quero apenas fumar, ela quer só falar; eu não desejo ouvir, ela também não. De forma lacônica a noite termina... digo belas gordas palavras e viro para o lado. Ofendida, se veste e me expulsa de seu abafado quarto. Agradeço com um sorriso, digo cinicamente que ligarei. Ando pela fresca madrugada, agora com meu anseio de paz realizado... não sinto remorso algum em descarta-la como comida vencida.
Chego em casa e, finalmente, durmo sob o ar condicionado, pensando em braços, não os da moçoila de minutos atrás, mas noutra, aliás A outra.