quarta-feira, 1 de julho de 2009

na caída do dossel

cama vazia
rola pro lado, há espaço demais, prefere o aperto e  o aconchego da cama de solteiro cheia
ao monte de lençol para ele
prefere a disputa pelas cobertas nas noites gélidas
a ficar com todo o calor que não aquece
nesses momentos que não passam e existem

ele volta em tempos, tempos que não acabam
tenta se divertir nessa solidão forçada
com a distância de um oceano os separando, como uma barreira
lado oriental e ocidental bloqueados
por um muro que tem data pra cair

risca os dias no calendário pela manhã, confere se estão riscados pela tarde
e rerrisca quando o sol se vai
faz mais um traço ao cair no espaço do dossel
não é mais o mesmo

o tempo teima a não passar
minutos são horas, horas são dias
sua falta de sono o ataca fortemente, teima em tentar falar
não há quem o escute
o Atlântico o rasga como papel frágil

o aperto no peito
o suspiro longinquo
a cidade que não dorme, agora calada
a noite que teima em não vir
a saudade retorcendo seu corpo

apenas tem tempo para escrever sobre uma paixão
aqueles que não estão vivendo uma paixão
ou os que estão impedidos de vivê-la

e ele se revira mais uma vez na gigante e vazia cama
sempre contando o tempo que não vai.