sexta-feira, 13 de junho de 2008

Parapeito


No alto do parapeito o homem está. A cidade lá embaixo, pessoas-formiga, carros-besouro. Tão próximo do céu, tão próximo do chão. É o purgatório... o purgatório de cimento, tão palpável quanto um corpo... da bela e amada mulher que o deixou. Pensa, respira fundo... hesita. No alto de sua cabeça, lembra, lembra, não há a certeza... o céu límpido, sol forte. Pensa na praia e no mar selvagem e de azul profundo, aqueles feriados, ... A lembrança passa. O trabalho o enfadonha, a família já não há, o namoro foi se, as contas estão a pagar. O vento forte em sua face gelado, cortante... o tempo passa e se ouve uma sirene, a massa corpórea aberta, estourada, o sangue mancha o negro asfalto... o céu outrora límpido assim não está, uma tempestade cai e a mulher que o largou... chega ao local do ambíguo ato. Chora, sai... a chuva limpa as marcas, mas o passado não se esquece.

segunda-feira, 9 de junho de 2008


Toco o velho violão caído, com marcas de uso. Como temos nossas marcas da vida. As marcas que nos formam, as velhas cicatrizes dos tombos. O violão tem marcas de queimadura de cigarros pelo corpo, arranhões, batidas, mas o som continua o mesmo do início, talvez ainda melhor. Ou talvez, seja só eu que estou bêbado e tocando os velhos blueses e baladas encantadoras em homenagem aos meus heróis enterrados em amores perdidos, butecos sujos, bebida barata e seringa na veia e pó no nariz em banheiros com privadas entupidas cheias de merda. Meus heróis, nem todos morreram de overdose, mas muitos caminham para isso ou pelo menos a loucura natural dos artistas. E pior que não morrer é aceitar a velhice que The Who não aceitava "I hope I die before get old". Mas esse é o nosso mundo, o suicídio é raro e muito condenado, cada vez mais vivemos em boas condições... Talvez eu deva apenas esperar a vida passar e chegar a hora de morrer, quem sabe se esse é o caminho... Nem vou esperar para ver... Sinto que não é... E vamos ao bar, e fumemos, e fodemos, dancemos e cantemos pelos cantos escusos da grande metrópole cinza.

Detalhe que estão sempre bem vestidos. Tal a elegância. A velha elegância da velhice.

domingo, 8 de junho de 2008

Às vezes, só a mentira salva- Bora manter as aparências, então.

A frase que inicia o post é do livro A Hora da Estrela, de Clarice Linspector. Altamente recomendável. Tem um monte de críticas sobre o clássico-mor de Clarice.



segunda-feira, 2 de junho de 2008

Idealização: escritores II


Certa vez escrevi sobre escritores... como eu escrevia em lugares "errados", bebendo coisas erradas e tal.

Pois é, dessa vez segui a risca o tutorial de como ser um bom escritor! Escrevo sob efeito de vinho vagabundo, maços de cigarro e em um buteco sujo por aí... e... não deu certo mesmo assim. O texto continua ruim, a prosa não é fluída... ou seja, não continuo escrevendo bem! O problema deve ser o "vagabundo" do vinho, um dia acerto, pó deixar!

domingo, 1 de junho de 2008

Kites in the sky


No subúrbio próximo, meninos empinam pipas… jamaicanas, amarelas com riscas vermelhas…; cachorros latem violentamente frente ao portão, e as mesmas pipas que voavam agora prendem aos fios diversos espalhados, com ou sem cerol.

A família logo abaixo briga com os mesmos que latiam sem parar. Da mesma janela de sempre, com um olho roxo ao fundo, observo as cenas não tão habituais, ouço um samba distante e uns Hermanos bem próximos.

Mesmo com tudo isso acontecendo não sai de minha vaga cabeça, ... chuvisco fresco e gélido; não, não é isso que permanece forçadamente por tanto tempo... é aquela confusão mental proporcionada por apenas algo, ... nem sei ao certo o que é... nada tenho de certeza, tamanho encanto proporcionado que suponho ter. Sim, suponho que seja isso e aquilo que as pessoas dizem por ai... nada certo, nada... nem ao menos sei...

Desligo minha mente de ti e ouço os mesmos caninos gritando e as pipas céu adentro. Kites in the sky. Sempre estão por lá com suas cores vibrantes tornando o cinzento em colorido...