segunda-feira, 9 de junho de 2008


Toco o velho violão caído, com marcas de uso. Como temos nossas marcas da vida. As marcas que nos formam, as velhas cicatrizes dos tombos. O violão tem marcas de queimadura de cigarros pelo corpo, arranhões, batidas, mas o som continua o mesmo do início, talvez ainda melhor. Ou talvez, seja só eu que estou bêbado e tocando os velhos blueses e baladas encantadoras em homenagem aos meus heróis enterrados em amores perdidos, butecos sujos, bebida barata e seringa na veia e pó no nariz em banheiros com privadas entupidas cheias de merda. Meus heróis, nem todos morreram de overdose, mas muitos caminham para isso ou pelo menos a loucura natural dos artistas. E pior que não morrer é aceitar a velhice que The Who não aceitava "I hope I die before get old". Mas esse é o nosso mundo, o suicídio é raro e muito condenado, cada vez mais vivemos em boas condições... Talvez eu deva apenas esperar a vida passar e chegar a hora de morrer, quem sabe se esse é o caminho... Nem vou esperar para ver... Sinto que não é... E vamos ao bar, e fumemos, e fodemos, dancemos e cantemos pelos cantos escusos da grande metrópole cinza.

Detalhe que estão sempre bem vestidos. Tal a elegância. A velha elegância da velhice.

7 comentários:

Iza Rovigatti disse...

Eu acho que a velhice pode ser tão bonita, é só você querer.




Ahh, gostei do texto fodo.

:D

Anônimo disse...

Eu anseio pela velhice, pra ser sincera. Parece-me um momento muito bonito em nossas vidas, tempo de contemplação. Mas sou louca, posso estar errada.

singela nostalgia · disse...

muito bom viver o hoje. não quero viver o amanhã caído. na verdade, quero viver o hoje com o sossego do amanhã.
por que não podemos ser jovens, cheios de vivacidade em nossas veias e não termos tantas preocupações, não vivermos se atirando a um futuro que a gente nem sabe se será bom mesmo?

Nobody Go. disse...

Para falar a verdade... eu tenho medo da velhice, por mais velha e sossegada que ela seja.

Anônimo disse...

Eu tenho muito medo da velhice. De não manter minha mente sã, da solidão a qual a idade avançada pode trazer.

Já ouvi muita gente dizer que a opção de não envelhecer - morrer jovem, por tabela - seria bem pior. Minha meta é concordar com isso.

Eu AMO o que você escreve, sério.

Ana Luiza Gonçalves disse...

Achei o final lindo.
Definiu lindamente.

E no texto, eu lembrei da Amy. Tipo, muito mesmo!
Seu texto é meio solidão mesmo. Mas quem foi que disse que a solidão é feia, né?

Beeeeijo!!!

Barbara disse...

E mesmo quando são feios chegam a ser bonitos, porque têm o que não tenho, têm a vivência, têm o tempo.
Têm os pecados e a iminência velada da morte.

Tenho também essas coisas, mas em tão menos quantidade, inversamente proporcional aos desejos, aos ímpetos, à adrenalina.