segunda-feira, 21 de julho de 2008

solitária solidão

Me chamas de melancólico, anti-social e solitário. Só porque ando por aí com a cabeça vagando longe do corpo, sem ninguém para conversar. Só porque vou ao cinema sem companhia, achas isso deprimente, é apenas para quem pensa assim, para mim, não.  Só porque janto sozinho num restaurante cheio de casais. Só porque ando perambulando por aí, apenas com minhas companhias mais fundamentais. Um bom livro, uma máquina de tirar fotos, um Ipod com músicas variadas, meu maço de cigarros e minhas cervejas ao longo do meu caminho. Além duma folha de papel amassada qualquer com rabiscos que são minhas letras, palavras, parágrafos... quase textos. Não posso fazer nada se essa "solidão" que alimenta minha alma, longe de mim achar que não preciso de pessoas, amigos, família, claro que preciso, mas... oras, nem sempre vocês estão por perto, nem sempre desejo isso. Preciso do meu tempo e do meu espaço para colocar as coisas e formas em ordem. Não sei se é ordem, talvez seja apenas o caos. "O problema é que penso que ordem é caos. E caos é ordem". Nada posso fazer além de seguir minha vida e esperar a chance de tê-los perto de mim. Quero e muito isso. Mas enquanto não acontece... continuo andando por ai com minhas companhias fundamentais: meus copos meio vazios, meio cheios, meu maço acabando, a bateria do Ipod acabando e eu sentindo a solidão.

terça-feira, 15 de julho de 2008

devaneios ultra reais


Andando pela rua na gélida madrugada, com a lua ao alto, reluzente como sempre... sozinho, isolado nos pensamentos perdidos duma cabeça confusa, milhares de idéias ao mesmo tempo... indo e vindo, não conseguindo ficar em um só.

Não penso no passado, a qual devemos lembrar, mas não nos prender, nem no futuro, que devemos pensar, mas não nos iludir, penso, apenas,  no presente no qual devemos viver... os outros que deixem para mim; me isolo nos perdidos devaneios do meu mundo paralelo, embasado em álcool e nicotina, nas ruas escuras e frias, no isolamento da metrópole, nos relacionamentos mentirosos, falsos, distantes e interesseiros, nos humanos atos imundos, na sujeira, nos ratos e esgotos. Meus embasamentos são todos negativos, a esperaçança distante está, como a luz ao final do túnel que nunca chega. Nisso que penso, nisso que vivo. Nesse mar de influências negativas...

Continuo andando sem rumo, o luar começa a baixar, estou na baixa Augusta, lugar em que convivem putas, cafetões, rockers, emos e todas as "tribos", me sinto bem em distinto lugar, a crueza e diferença dos seres humanos exposta ao vento, não no underground por aí, escondido do mundo, ali a verdade vêm à tona... ali encontro tudo que me embasa. Minha casa aqui és... a relação de exploração entre patrões e meretrizes, essas e seus clientes, esses e o álcool, a verdade e a mentira andando lado a lado... irônico ser tudo tão verdadeiro ali, mesmo com tantas mentiras, "nossa, como você é gostoso" - puta para comprador. Tudo isso é a verdade, não essa redoma em que costumamos viver, talvez por isso me sinto tão bem ali, no meio de pessoas que costumam dizer para evitarmos, com ambientes nada familiares, com substâncias nada saudáveis e com a verdade tão evitada. Esse é o nosso mundo, baseado no falso. Aqui é minha casa. Cada bar é um cômodo, cada pessoa é um morador, cada cama é um sofá e cada bebida é a bebida. E assim que é. E deveria ser.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

A ironia das flores erradas


No alto das copas, rosas primaveras colorem o macabro ambiente de cores neutras, estátuas kitsh, cruzes, túmulos e memórias. Sim, as memórias dos momentos com o infeliz que nos deixou, nem ao menos para avisar... Tinha que ser de surpresa, ataque cardíaco fulminante... ele se vai e nós ficamos aqui, chorando de tristeza e pensando na saudade que já nos bate, só de pensar que o querido tio não estaria ali na próxima festa de família, ficando bêbado e dando vexame... como dói fundo.

O clima pesado, com famílias inteiras chorando o adeus ao ente. As vestes pretas predominam, deixando o local ainda mais triste, lenços enxugam as lágrimas que insistem em cair, as imensas coroas colocadas em volta do caixão... os últimos presentes ao defunto. O silêncio predomina próximo ao túmulo... se ouve apenas o piar dos pássaros que são cúmplices da cerimônia, mas não participam do ritual, se participassem estariam quietos e vertendo água de seus glóbulos oculares, mas não, cantam a alegre melodia matinal de todo dia.

Pior que os pássaros, pobres pássaros... são as odiosas lindas flores no topo das árvores, ora, deveriam nascer lá no parque, deveriam ser vendidas para serem dadas, deveriam alegrar outro lugar, não esse que cá estou, não há motivo para estarem aqui... tentando nos dar tapinhas nas costas e falar que vai passar... ora, isso sabemos, mas quero curtir meu luto, sem ninguém tentando me animar, quero chorar tudo que posso agora, quero que sequem minhas glândulas lacrimais, e tem que ser agora, preciso retirar tudo isso de mim de uma só vez e depois levantar a cabeça e keep movin', enquanto isso não acontece... me deixem, lindas flores, terão sua vez mais tarde, num momento certo... o que estou agora não o é...

Irônico nascerem as mais belas flores no lugar em que choramos nossas perdas.