quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

No arrastar das alpargatas

Noite quente, com algumas poucas estrelas visíveis, numa atípica quinta-feira paulistana, entre os feriados de Natal e Ano Novo. Vazia, tranqüila para os padrões da metrópole. O garoto anda 300 metros lentamente, arrastando suas alpargatas gastas. Enquanto isso uma confusão de sentimentos, vontades, dores e essas coisas, que os seres humanos sentem, se passa em sua cabeça juvenil.

Na verdade, não sabe bem o que sente, aquele vazio que o acomete, lembranças, memórias e, por fim, chega a saudade. O calor moribundo não ajuda na tentativa de descobrir o que sente, ao longo do caminho pessoas passam. Grupos de jovens, famílias, senhoras, senhores e o solitário garoto continua sua caminhada não tão longa ao seu destino.

A melancolia estampada em seu rosto, seus gestos, denota a confusão que sente, sua cabeça pensa lentamente na sua vida, seus propósitos e principalmente na tempestade mental que está passando. Ele sabe que sempre tem suas neuras, seus problemas, mas de vez em quando eles batem mais forte, o que causa a melancolia.

Isso é ser humano, ter que pensar em tudo isso e saber que amanhã o dia nasce novamente, que amanhã você pode estar todo sorridente e alegre, enquanto isso, o garoto continua pensando... e pensando... e pensando... e pensando...

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Cartas

Cartas não são scraps, cartas não são testimoniais, cartas não são nem e-mails, apesar do nome (traduzido, óbvio, né). E por que existem pessoas que continuam mandando-as, mesmo tendo acesso a todas essas alternativas?

Imagino que a carta tenha toda uma simbologia, por exemplo: convites de casamentos, contas, postais todas chegam por cartas. Amizades postais existem, assim como, hoje, pessoas têm amizades virtuais. O mundo evoluiu muito, muitas mudanças, mas certos hábitos nunca mudam, faz sentido uma velha mandar uma carta, mas, não são apenas essas, que ainda mantém a tradição, alguns jovens tem um apreço especial pelas mesmas. Vai entender, não é?
Confesso que eu tenho uma certa admiração, veneração quem sabe pelas mensagens via correio, cartas de amor (ridículo, como dizia Pessoa), cartas de amigos e, principalmente, pelo histórico de amizades literárias Pessoa e seu amigo Sá-Carneiro, que o informou do suicídio via carta, existe algo mais forte do que isso? Ou a amizade e troca de idéias entre Drummond e Mário de Andrade? Existem outras, muitas outras, mas o Google é meio burro e não ta ajudando na busca, então termino por aqui as referências literárias, por cartas.
O que torna as cartas tão especiais é o jeito intimista de ser, a mensagem é direta, remetente para destinatário e só, não há intermediários. Outro fato, é a mania das pessoas em guardar lembranças e coisas que representa(ra)m alguma coisa pra vida delas, como: a camisinha da primeira transa, as cartinhas da primeira paixão, esse tipo de coisa, que para quem vê de longe é insignificante, mas só quem viveu sabe a razão daquele papel estar guardado. Li no blog Sorvete de Creme com Calda: “Um conselho muito bom é não jogar nada fora. Deixe guardadinho, você pode passar por uma fase ruim algum dia, e querer relembrar alguma característica da pessoa, para que você possa se animar, e caso jogue tudo que ganhou, não há meios de relembrar, certo?!” Faz muito sentido.
E, oras, por que não amigos mandarem cartas? Por que não demonstrar a eles o quão são especiais, mas não por depoimentos, e sim, por algo concreto que eles possam guardar. Fica a sugestão.

sábado, 1 de dezembro de 2007

LUGAR DO CARALHO!

Qual outro nome posso dar a esse post, que vou falar sobre o lugar que encontrei as pessoas mais foda, nos três anos mais foda da minha vida? É, a Federal acabou, aquele lugar que você achava que só ia encontrar nerds-jogadores-de-magic, metaleiros e gente estranha, incluindo você. No final, achou as pessoas que fizeram você crescer, que fez você valorizar ainda mais as amizades e perceber que tudo tem seu lado muito positivo! Mesmo que não seja a melhor escola no quesito “matéria”, nunca vai achar o grupo de pessoas como os que achou lá. Tenho quase certeza disso.

É estranho pensar nisso, mas aquele lugar tem tudo para você não gostar, é feio, instalações pífias, material antigo, professores displicentes (claro que nem todos), mas não, no final de tudo, você percebe que lá é diferente e todos esses contras fizeram você melhorar, ser mais independente e menos filhinho-de-papai-que-estudava-numa-escolinha-que-mandava-bilhetinhos-caso-não-fizesse-a-lição, mas lá, não, você tem que aprender sozinho, você não é cobrado, mata aula, toca o putero, faz o que quiser, essa liberdade é o diferencial. Tá, mas tudo isso não explica o porquê de se apegar àquele lugar, perceber que vai sentir falta e o pior, qual a relação de tudo isso com as pessoas que lá estão?

No começo, toda aquela dificuldade, escola nova, ambiente novo, miguxos novos e você todo retraído lá... com medo de não gostarem de você, mal você pisca e já está no meio do ano, com amigos e panelas. Piscou de novo, 2º ano, e você percebe que aquelas pessoas são diferentes das outras, tá, possivelmente percebeu antes, mas é estranho como suas amizades vão crescendo, você deixa de ser tímido, começa a “causar”, porque você é malandro, o tempo vai passando e já está no 3º. Ai fudeu, começo do ano, e você percebe que já é o último naquele lugar feio, por enquanto tudo normal. Muitos amigos vão fazer o cursinho e cai a ficha que tem aquele testezinho no final do ano, o Vestibular, mas você está todo tranqüilo, então começam as contagens regressivas para a viagem de formatura, Porto. E chega, Porto, você causa, beija mil e umas (ou não), bebe todas, percebe, logo depois que volta, que aqueles caras são realmente sensacionais, afinal “só se conhece os amigos, quando se viaja com eles”. E cai a ficha, final do ano, último bimestre, começa a famosa DPP (depressão pós-porto) e os dias passando cada vez mais rápido, passa Unicamp, passa Fuvest e acabou. Você toma um porre fenomenal, chora pra caralho em homenagem aos amigos, por enquanto estou aqui.

Um dia completo, o que mais posso dizer? Que não me arrependo de nada, que aquela escola (escola? Clube vá, lá) é demais, que os amigos são muito bons, que nada mais vai ser igual, que você vai sentir falta até daquele amigo pentelho, que a sua tchurma é foda, mas que nunca mais vai ser igual, todos juntos e que você está envelhecendo, chegando a hora de amadurecer.

Mas acima de tudo isso, o fim do Colegial é só o fim de mais uma fase, que nem aquela formatura do prézinho, o fim da 4ª série e da 8ª. Tentam te convencer disso, eu discordo, talvez por estar tão próximo ainda, talvez eu seja um bobo, novo-velho, já saudosista, mas é isso, para mim é diferente. Mas no final, deve ser só mais uma fase, como todas as outras, os amigos continuarão, não importa a distância, novos amigos chegarão, novos ambientes você vai freqüentar. E na memória fica o companheirismo, a amizade, os bons e maus momentos passados juntos, os estranhos, os professores, as cagadas, os bares, as baladas, aquele jogo de futebol e pasmem, até as aulas.

Federal, o clube-escola que deixa saudades, nos três melhores anos da minha (ainda) curta vida. Dos ensinamentos, e perceber que aquilo é uma prévia da faculdade. Mas vá lá apesar de todas as dificuldades que encontraremos, a amizade continua e perceber que tudo valeu a pena. E, não, a ficha ainda não caiu.